sábado, 1 de maio de 2010

O que é o Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (TDAH)


Antes de sugerir que um aluno tem hiperatividade, veja se é sua aula que não anda prendendo a atenção. Cinco pontos essenciais sobre esse transtorno

À primeira vista, a estatística soa alarmante: de 3 a 6% das crianças em idade escolar sofrem com o Transtorno de Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade (o nome oficial do TDAH), que muita gente conhece somente como hiperatividade. Quer dizer então que, numa classe de 30 alunos, sempre haverá um ou dois que precisam de remédio?

Não. Na maioria das vezes, o acompanhamento psicológico é suficiente. E, se o problema for bagunça ou desatenção, vale analisar se a causa não está na forma como você organiza a aula.


"Geralmente, a inquietação costuma estar mais relacionada com a dinâmica da escola do que com o transtorno", diz Ma­u­ro Muszkat, especialista em Neuropsicologia Infantil da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Quando o caso é mesmo de TDAH, são três os sintomas principais: agitação, dificuldade de atenção e impulsividade - que devem estar presentes em pelo menos dois ambientes que a crian­ça frequenta.

Por tudo isso, nun­­ca é demais lembrar que o diagnóstico precisa de respaldo médico. Veja cinco pontos essenciais sobre o transtorno.

1. Agitação não é hiperatividade

Há dias em que alguns alunos parecem estar a mil por hora e nada prende a atenção deles. Isso não significa que sejam hiperativos.
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O problema pode ter raízes na própria aula - atividades que exijam concentração muito superior à da faixa etária, propostas abaixo (ou muito acima) do nível cognitivo da turma e ambientes desorganizados e que favoreçam a dispersão, por exemplo. Em outras ocasiões, as causas são emocionais.

"Questões como a morte de um familiar e a separação dos pais podem prejudicar a produção escolar", diz José Salomão Schwartzman, neurologista especialista em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo.
Nesses casos, os sintomas geralmente são transitórios. Quando ocorre o TDAH, eles se mantêm e são tão exacerbados que prejudicam a relação com os colegas. Muitas vezes, o aluno fica isolado e, mesmo hiperativo, não conversa.

2. Só o médico dá o diagnóstico

Um levantamento realizado recentemente pela Unifesp aponta que 36% dos encaminhamentos por TDAH recebidos no setor de atendimento neuropsicológico infantil da instituição são originados da escola por meio de cartas solicitando aos pais que procurem tratamento para o filho.

"Em muitos casos, o transtorno não se confirma", afirma Muszkat.

A investigação para o diagnóstico costuma ser bem detalhada.

Hábitos, traços pessoais e histórico médico são esquadrinhados para excluir a possibilidade de outros problemas e verificar se os aspectos que marcam o transtorno estão mesmo presentes.

Como ocorre com a maioria dos problemas psicológicos (depressão, ansiedade e síndrome do pânico, por exemplo), não há exames físicos que o problema. Por isso, o TDAH é definido por uma lista de sintomas.
Ao todo são 21 - nove referentes à desatenção, outros nove à hiperatividade e mais outros três à impulsividade.

3. Nem todos precisam de remédio

Entre os anos de 2004 e 2008, a venda de medicamentos indicados para o tratamento cresceu 80%, chegando a cerca de 1,2 milhão de receitas, segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Diversos especialistas criticam essa elevação, apontando-a como um dos sinais da chamada "medicalização da Educação" - a ideia de tratar com remédios todo tipo de problema de sala de aula.

"Muitas vezes, o transtorno não é tão prejudicial e iniciativas como alterações na rotina da própria escola, para acolher melhor o comportamento do aluno, podem trazer resultados satisfatórios", explica Schwartz­wman.

Quando a medicação é necessária, os estimulantes à base de metilfenidato são os mais prescritos pelos médicos. Ao elevar o nível de alerta do sistema nervoso central, ele auxilia na concentração e no controle da impulsividade.

O medicamento não cura, mas ajuda a controlar os sintomas - o que se espera é que, juntamente com o acompanhamento psicológico, as dificuldades se reduzam e deixem de atrapalhar a qualidade de vida.

Vale lembrar que o remédio é vendido somente com receita e, como outros medicamentos, pode causar efeitos colaterais. Cabe ao médico avaliá-los.

4. O diálogo com a família é essencial

Em alguns casos, os professores conseguem participar das reuniões com os pais e o médico.

Quando isso não é possível, conversas com a família e relatórios periódicos enviados para o profissional da saúde são indicados para facilitar a comunicação. É importante lembrar ainda que não é por causa do transtorno que professores e pais devem pegar leve com a criança e deixar de estabelecer limites - a maioria das dificuldades gira em torno da competência cognitiva, da falta de organização e da apreensão de informações, e não da relação com a obediência.

Durante os momentos de maior tensão, quando o estudante está hiperativo, manter o tom de voz num nível normal e tentar estabelecer um diálogo é a melhor alternativa.


"Se o adulto grita com a criança, ambos acabam se exaltando rápido e, em vez de compreender as regras, ela pode pensar que está sendo rejeitada ou mal compreendida", diz Muszkat.


5. O professor pode ajudar (e muito)

Adaptar algumas tarefas ajuda a amenizar os efeitos mais prejudiciais do transtorno.
Evitar salas com muitos estímulos é a primeira providência.

Deixar alunos com TDAH próximos a janelas pode prejudicá-los, uma vez que o movimento da rua ou do pátio é um fator de distração.


Outra dica é o trabalho em pequenos grupos, que favorece a concentração.

Já a energia típica dessa condição pode ser canalizada para funções práticas na sala, como distribuir e organizar o material das atividades.


Também é importante reconhecer os momentos de exaustão considerando a duração das tarefas.

Propor intervalos em leituras longas ou sugerir uma pausa para tomar água após uma sequência de exercícios, por exemplo, é um caminho para o aluno retomar o trabalho quando estiver mais focado.

De resto, vale sempre avaliar se as atividades propostas são desafiadoras e se a rotina não está repetitiva.

Esta, aliás, é uma reflexão importante para motivar não apenas os estudantes com TDAH, mas toda a turma.

Fonte: Revista Nova Escola

Um comentário:

Dr. Paulo Pereira disse...

O Déficit de atenção, com ou sem hiperatividade, é uma das doenças mais subdiagnosticadas da psiquiatria.

Inúmeras pessoas sofrem com os seus sintomas diariamente e, por ser uma doença tão sutil, chegam mesmo a passar décadas, senão a vida inteira, sem um diagnóstico preciso firmado...

Além disso, justamente por tratar-se de uma doença sutil e de difícel diagnóstico, muitos pacientes se perguntam se realmente têm a doença, muitas vezes até saindo de uma consulta sem a resposta bem definida...

O que se observa frequentemente é um paciente que passa a alternar entre vários médicos e psiquiatras durante alguns anos até conseguir encontrar um especialista não só em psiquiatria infantil, mas em TDA/H, ainda desconhecida ou mal - interpretada por vários profissionais.

A pessoa passa a vida inteira ou grande parte dela com sintomas sutis, como por exemplo dificuldades frequentes na escola (

Grande dificuldade todo ano para passar nas provas finais), impulsividade latente (dificuldades para enfrentar filas esperar sua vez, sempre comendo ou andando com rapidez excessiva) ou perda de objetos como carteira, celular, etc. até que descubra, tardiamente, tratar-se de transtorno com diagnóstico e tratamento estabelecido!

Muitas vezes, os pais, por não saberem tratar-se de uma doença, passam ajudar o paciente a estudar, como tutores, ou que melhora parcialmente o valor das notas tiradas, mais ainda não é o tratamento completo de que ele necessita.

O Fluxo intenso do pensamento, tão característico do portador do transtorno, faz com que muitos cheguem até mesmo a gritar sem uma causa estabelecida, levando a grande preocupação por parte dos pais.

Veja mais em: http://www.drpaulopereira.com/1.htm