segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mentes inquietas - por Andréia Lédio

Taxados de impulsivos, desatentos e agitados, portadores de TDAH sofrem preconceito
"Minha filha vivia no mundo-da-lua, era pouco sociável e tímida. Eu sempre recebia bilhetinhos de advertência sobre seu comportamento disperso na sala de aula. Mas quando a psicóloga fez o primeiro laudo de Taís e diagnosticou que ela tinha TDAH, meu mundo desabou!"
A mãe Viviane Gajardo relembra o momento em que descobriu que sua caçula, de 11 anos, não era somente uma garota distraída e desatenta, mas portadora do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade [TDAH].
"Chorei muito, pois me sentia culpada por não ter percebido o problema antes e poupado minha filha de tantas frustrações e preconceito."
Assim como Viviane, grande parte da população desconhece que o TDAH é o transtorno neurobiológico mais comum na idade escolar. Estima-se que de 3% a 6% das crianças e adolescentes apresentam o distúrbio.
A fonoaudióloga Fernanda Vilanova Almeida afirma que, geralmente, essas crianças e jovens apresentam algum tipo de dificuldade na escola, como a de começar e terminar uma simples tarefa.
De acordo com a psiquiatra Lídia Straus, a inexistência de exames laboratoriais dificulta a identificação precoce do transtorno.
"O único instrumento para diagnosticar o TDAH é a observação. Alguns indícios começam bem cedo: já no primeiro ano de vida podemos identificar bebês que não conseguem estabelecer um ritmo de mamada, que se irritam facilmente e dormem muito pouco", explica a médica, que informa, ainda, que o diagnóstico é feito a partir dos cinco anos - quando a criança atinge certa sociabilidade e também está na idade escolar. "
Para o TDAH ser diagnosticado, os sintomas devem aparecer em mais de um ambiente: em casa, na escola, no clube, em casa de amigos..."

"Às vezes o aluno com TDAH não tem paciência ou se distrai e não responde à questão da prova. Mas se o teste for oral, ele se sairá muito bem", exemplifica a fonoaudióloga Fernanda Almeida.
Entretanto, a especialista alerta para o cuidado em confundir o TDAH com má-educação e falta de limites.
"Muitas vezes chegam casos de crianças que não têm TDAH, mas a ausência da figura dos pais, da autoridade, de limites e respeito. Portanto, é preciso que familiares e educadores fiquem atentos para que possam fazer essa diferenciação."
Na idade adulta
Durante muitos anos, pensou-se que o TDAH era uma síndrome exclusiva da infância. Porém, com o aprofundamento das pesquisas, os cientistas concluíram que o quadro neurobiológico é genético e seu curso é crônico.
De acordo com o presidente da Associação Brasileira do Déficit de Atenção, o psiquiatra Paulo Mattos, cerca de 70% das crianças portadoras continuam a apresentar os sintomas do transtorno quando crescem.

Há menos de um ano, o mineiro Leonardo Rocha Pena se descobriu portador de TDAH.
"Procurei um psicólogo, pois estava muito deprimido, com problemas conjugais e me surpreendi com o comentário do profissional ao falar que eu era um TDAH em potencial."
Apesar da surpresa desagradável, o contabilista de 33 anos afirma que se sentiu aliviado com a notícia. "Por saber que durante toda a minha vida fui tratado como um problema e, de repente, descobri que, em boa parte, as coisas aconteceram devido a um transtorno. Eu sempre fui diferente, mas agora estava encontrando o meu lugar."
A pedagoga e pesquisadora do Centro de Neuropedatria do Hospital das Clínicas de Curitiba Maria Cristina Bromberg, afirma que quanto mais tarde o problema é diagnosticado, maiores os prejuízos sociais, educacionais e psicológicos, pois o adulto não diagnosticado na infância cresce sem ter consciência da causa do seu comportamento e sem a possibilidade de criar ajustes na sua maneira individual de ser.
Intervenção Multidisciplinar
Para o psiquiatra João Artur Winkelman, após diagnosticado o TDAH, o medicamento deve ser necessariamente prescrito. "O remédio abrevia o sofrimento e melhora a qualidade de vida", garante.

Além da abordagem farmacológica, o tratamento do TDAH envolve ainda o acompanhamento psicoterápico e psicossocial. Essa combinação de tratamento, que engloba profissionais das área médica, de saúde mental e emocional, é denominada de intervenção multidisciplinar.
Leonardo Pena enfatiza que informações sobre o transtorno, dados de como interfere no comportamento e das possibilidades de melhora são essenciais para a evolução do quadro.
"O tratamento em si é um auxílio enorme, mas não podemos acreditar que apenas ele resolve o problema. O que acredito ser primordial para a melhora do quadro de TDAH é a pessoa aceitar o transtorno."
Fonte: Revista Paradoxo.com

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