TDAH – Algumas dicas para os pais
Programas de treinamento para pais de crianças com TDAH frequentemente começam com ampla divulgação de informação.
Existe uma grande quantidade de livros, vídeos e fitas disponíveis, com dados a respeito do transtorno em si e de estratégias efetivas, que podem ser usadas por familiares.
A lista que segue revê alguns pontos, de uma série de estratégias, que podem ajudar os pais de crianças com TDAH:
•Mandamentos
1.Reforçar o que há de melhor na criança.
2.Não estabelecer comparações entre os filhos. Cada criança apresenta um comportamento diante da mesma situação.
3.Procurar conversar sempre com a criança sobre como está se sentindo.
4.Aprender a controlar a própria impaciência.
5.Estabeleça regras e limites dentro de casa, mas tenha atenção para obedecer-lhes também.
6.Não esperar ‘’perfeição’’.
7.Não cobre resultados, cobre empenho.
8.Elogie! Não se esqueça de elogiar! O estímulo nunca é demais. A criança precisa ver que seus esforços em vencer a desatenção, controlar a ansiedade e manter o ‘’motorzinho de 220 volts’’ em baixas rotações está sendo reconhecido.
9.Manter limites claros e consistentes, relembrando-os frequentemente.
10.Use português claro e direto, de preferência falando de frente e olhando nos olhos.
11.Não exigir mais do que a criança pode dar: deve-se considerar a sua idade.
•Estudo
1.Escolher cuidadosamente a escola e a professora para que a criança possa obter sucesso no processo de ensino-aprendizagem.
2.Não sobrecarregar a criança com excesso de atividades extracurriculares.
3.O estudo deve ser do jeito que as crianças ou os adolescentes bem entenderem. Tudo deve ser tentado, mas se o resultado final não corresponder às expectativas, reavalie após algumas semanas e peça novas opções; vá tentando até chegar à situação que mais favoreça o desempenho.
4.Tenha contato próximo com os professores para acompanhar melhor o que está acontecendo na escola.
5.Todas as tarefas têm que ser subdivididas em tarefas menores que possam ser realizadas mais facilmente e em menor tempo.
•Regras do dia-a-dia
1.Dar instruções diretas e claras, uma de cada vez, em um nível que a criança possa corresponder.
2.Ensinar a criança a não interromper as suas atividades: tentar finalizar tudo aquilo que começa.
3.Estabelecer uma rotina diária clara e consistente: hora de almoço, de jantar e dever de casa, por exemplo.
4.Priorizar e focalizar o que é mais importante em determinadas situações.
5.Organizar e arrumar o ambiente como um meio de otimizar as chances para sucesso e evitar conflitos.
•Casa
1.Manter em casa um sistema de código ou sinal que seja entendido por todos os membros da família.
2.Manter o ambiente doméstico o mais harmônico e o mais organizado quanto possível.
3.Reservar um espaço arejado e bem iluminado para a realização da lição de casa.
4.O quarto não pode ser um local repleto de estímulos diferentes: um monte de brinquedo, pôsteres, etc.
•Comportamento
1.Advertir construtivamente o comportamento inadequado, esclarecendo com a criança o que seria mais apropriado e esperado dela naquele momento.
2.Usar um sistema de reforço imediato para todo o bom comportamento da criança.
3.Preparar a criança para qualquer mudança que altere a sua rotina, como festas, mudanças de escola ou de residência, etc.
4.Incentivar a criança a exercer uma atividade física regular.
5.Estimular a independência e a autonomia da criança, considerando a sua idade.
6.Estimular a criança a fazer e a manter amizades.
7.Ensinar para a criança meios de lidar com situações de conflito (pensar, raciocinar, chamar um adulto para intervir, esperar a sua vez).
•Pais
1.Ter sempre um tempo disponível para interagir com a criança.
2.Incentivar as brincadeiras com jogos e regras, pois além de ajudar a desenvolver a atenção, permitem que a criança organize-se por meio de regras e limites e, aprenda a participar, ganhando, perdendo ou mesmo empatando.
3.Quem tem TDAH pode descarregar sua “bateria” muito rapidamente. Se este for o caso, recarregue-a com mais frequência. Alguns portadores precisam de um simples cochilo durante o dia, outros de passear com o cachorro, outros de passar o fim de semana fora, outros ainda de ginástica ou futebol. Descubra como a “bateria” do seu filho é melhor recarregada.
4.Evite ficar o tempo todo dentro de casa, principalmente nos fins de semana. Programe atividades diferentes, não fique sempre fazendo a mesma coisa. Leve todos à praia, ao teatro, ao cinema, para andar no parque, enfim, seja criativo.
5.Estabeleça cronogramas, incluindo os períodos para ‘’descanso’’, brincadeiras ou simplesmente horários livres para se fazer o que quiser.
6.Nenhuma atividade que requeira concentração (estudo, deveres de casa) pode ser muito prolongada. Intercale coisas agradáveis com tarefas que demandam atenção prolongada (potencialmente desagradáveis, portanto).
7.Procure sempre perguntar o que ela quer, o que está achando das coisas. Não crie uma relação unidirecional. Obviamente, os pedidos devem ser negociados e atendidos no que for possível.
8.Use mural para afixar lembretes, listas de coisas a fazer, calendário de provas. Também coloque algumas regras que foram combinadas e promessas de prêmio quando for o caso.
9.Estimule e cobre o uso diário de uma agenda. Se ela for eletrônica, melhor ainda. As agendas devem ser consultadas diariamente.
•Lembre-se sempre
1.Procure o máximo de informações possível sobre o TDAH: leia livros, faça cursos, entre para organizações como a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (www.tdah.org.br), faça contato com outros pais para dividir experiências bem e mal sucedidas.
2.Tenha certeza do diagnóstico e segurança de que não há outros diagnósticos associados ao TDAH.
3.Tenha certeza de que o tratamento está sendo feito por um profissional que realmente entende do assunto.
4.Lembre-se que seu filho (a) está sempre tentando corresponder às expectativas, mas às vezes não consegue. Deve sempre lembrar-se aos pais que estes devem ser otimistas, pacientes e persistentes com o filho. Não devem desanimar diante dos possíveis obstáculos.
ABDA® Todos os direitos reservados. Copyright 2013.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Dicas da ABDA - TDAH - Algumas dicas para os pais.
Jovem com TDAH cria app para ajudar crianças com dificuldade de aprendizado
Ajudar crianças que tenham dificuldade cognitiva no processo de aprendizagem, este é o objetivo de um aplicativo desenvolvido para dispositivos móveis pela aluna Laleska Aparecida, de 18 anos, estudante do curso de engenharia de controle e automação do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), Campus Manaus Distrito Industrial. O projeto está em exposição na 11⁰ Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), que ocorre até domingo, 19, no pavilhão do parque Sarah Kubitscheck, em Brasília, DF.
O aplicativo, que ainda não tem nome registrado, visa ajudar crianças das séries iniciais no processo de ensino-aprendizagem. A ideia é que ele possa futuramente servir como ferramenta pedagógica ao alcance de todos os professores e redes de ensino de forma gratuita. O projeto é coordenado pelo professor Diego Sales, da área de Eletrônica do IFAM.
A motivação de tudo veio justamente de uma situação adversa, um diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que Laleska recebeu na infância, aos 8 anos de idade. A estudante afirma que ela e os pais sofreram com a falta de informação e com seu rendimento escolar muito abaixo da maioria dos colegas de classe.
“Meus Pais desconfiaram que havia algo errado, pois somente na segunda série do ensino fundamental que comecei a ler as primeiras palavras. Penso que assim como eu e minha família, milhões sofrem com a falta de orientação médica, muitos, inclusive, sem um diagnóstico clínico”, disse Laleska.
Porém, não são apenas os diagnosticados com TDAH e os familiares que sofrem com a falta de informação. Uma parcela importantes de professores das séries inicias não têm capacitação para trabalhar com esses alunos que, evidentemente, necessitam de atenção diferenciada.
“Vejo que na própria rede de ensino os professores e orientadores educacionais não são qualificados para trabalhar com um aluno que tenha dislexia. Muitas vezes esses alunos, nós, somos deixados de lado, taxados como preguiçosos, isso só nos prejudica e gera preconceito. Quero apenas que esse projeto possa ajudar muitas crianças”, destaca a jovem.
De acordo com a Associação Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH e a dislexia são situações mais recorrentes na infância, acometendo 5% das crianças, causando impactos diretos no rendimentos destes alunos, geralmente nas séries iniciais, nas relações sociais e também na família.
“A Laleska é um exemplo de dedicação e força de vontade, afinal, não se deixou abater pelo diagnóstico e conseguiu ingressar no curso técnico integrado em eletrônica do IFAM, e ao concluir o curso, ingressou no ensino superior, no curso de engenharia de controle e automação, áreas complexas e muito concorridas”, destaca o professor Gabriel Guerreiro, que acompanha a estudante na exposição do projeto na SNCT.
O aplicativo, que ainda não tem nome registrado, visa ajudar crianças das séries iniciais no processo de ensino-aprendizagem. A ideia é que ele possa futuramente servir como ferramenta pedagógica ao alcance de todos os professores e redes de ensino de forma gratuita. O projeto é coordenado pelo professor Diego Sales, da área de Eletrônica do IFAM.
A motivação de tudo veio justamente de uma situação adversa, um diagnóstico de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), que Laleska recebeu na infância, aos 8 anos de idade. A estudante afirma que ela e os pais sofreram com a falta de informação e com seu rendimento escolar muito abaixo da maioria dos colegas de classe.
“Meus Pais desconfiaram que havia algo errado, pois somente na segunda série do ensino fundamental que comecei a ler as primeiras palavras. Penso que assim como eu e minha família, milhões sofrem com a falta de orientação médica, muitos, inclusive, sem um diagnóstico clínico”, disse Laleska.
Porém, não são apenas os diagnosticados com TDAH e os familiares que sofrem com a falta de informação. Uma parcela importantes de professores das séries inicias não têm capacitação para trabalhar com esses alunos que, evidentemente, necessitam de atenção diferenciada.
“Vejo que na própria rede de ensino os professores e orientadores educacionais não são qualificados para trabalhar com um aluno que tenha dislexia. Muitas vezes esses alunos, nós, somos deixados de lado, taxados como preguiçosos, isso só nos prejudica e gera preconceito. Quero apenas que esse projeto possa ajudar muitas crianças”, destaca a jovem.
De acordo com a Associação Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o TDAH e a dislexia são situações mais recorrentes na infância, acometendo 5% das crianças, causando impactos diretos no rendimentos destes alunos, geralmente nas séries iniciais, nas relações sociais e também na família.
“A Laleska é um exemplo de dedicação e força de vontade, afinal, não se deixou abater pelo diagnóstico e conseguiu ingressar no curso técnico integrado em eletrônica do IFAM, e ao concluir o curso, ingressou no ensino superior, no curso de engenharia de controle e automação, áreas complexas e muito concorridas”, destaca o professor Gabriel Guerreiro, que acompanha a estudante na exposição do projeto na SNCT.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
Volto com o blog com mais informações
Olá, estive longe de vocês mais estou voltando com novas matérias sobre transtornos TDAH .
Saiu esta matéria na O GLOBO
VEJA TAMBÉM
Saiu esta matéria na O GLOBO
TDAH ainda é um transtorno mal compreendido
Diagnósticos errados e mau uso de remédios aumentam desinformação sobre déficit de atenção e hiperatividade
por FLÁVIA MILHORANCE
RIO - “Já ouvi que só era boa aluna porque tomava ritalina”, lembra Pâmela Rodrigues, de 18 anos, estudante de engenharia agrícola na UFF, em tratamento pelo Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) desde os 10 anos. Não é raro que pacientes com o problema tenham que lidar com a desconfiança e o preconceito, em geral frutos da falta de informação sobre o distúrbio e seu tratamento. O frequente mau uso de remédios e diagnósticos equivocados agravam o problema, segundo especialistas reunidos na última edição dos Encontros O GLOBO Saúde e Bem-Estar.
POLÊMICA EM PRESCRIÇÃO DE REMÉDIO
Para complicar ainda mais, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo acaba de adotar novas regras para o acesso aos medicamentos. Numa portaria que passará a valer em outubro, o órgão pede que toda vez que o metilfenidato — componente da ritalina, praticamente única alternativa no tratamento do TDAH — for prescrito na rede pública, um grupo multidisciplinar de profissionais reavalie o caso do paciente. A justificativa do órgão é evitar o uso excessivo de remédio e garantir o acompanhamento do indivíduo. Mas a Associação Brasileira de Psiquiatria reagiu à medida, acusando-a de obstruir o acesso ao tratamento da população de baixa renda, além de limitar a autonomia do médico.
— Essa é mais uma barreira que se coloca no tratamento — acrescentou Cláudio Domênico, cardiologista e curador do evento realizado, na última quarta-feira, na Casa do Saber O GLOBO. — Muitas pessoas fazem mau uso do remédio, usam para virar a noite estudando ou dirigindo. Essa não é a indicação da bula, e isto acaba atrapalhando sua prescrição correta.
Embora seja um medicamento de tarja preta, a ritalina é comprada com facilidade no Brasil, hoje o segundo maior consumidor do remédio do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. De julho de 2012 a julho de 2013 foram comercializadas no país 2,75 trilhões de caixas com metilfenidato, o equivalente a R$ 54,2 bilhões, segundo a consultoria IMS Health.
Nos Estados Unidos, aliás, dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revelavam em 2011 que cerca de 11% das crianças americanas (6,4 milhões) tinham o transtorno, contra 7,8% em 2003. Além disso, 3,5 milhões delas faziam uso do medicamento, e na década de 1990 eram apenas 600 mil. Dados como este e a declaração em 2012 de Leon Eisenberg, considerado “o pai do TDAH”, de que tratava-se “de um excelente exemplo de doença fictícia” iniciaram o debate sobre o possível excesso de diagnóstico e de prescrição de remédios no país.
Esta preocupação foi rebatida pelo psiquiatra Paulo Mattos, autor do livro sobre TDAH “No Mundo da Lua”, durante o evento do GLOBO. Ele citou um estudo publicado este ano por um grupo de pesquisadores brasileiros na “International Journal of Epidemiology”, revelando que a prevalência do TDAH não variou de 1985 a 2012 no mundo.
— Qual é a diferença deste estudo para outros que mostram um aumento? Só foram incluídos os casos cujo diagnóstico tinha sido feito por especialistas, a partir de critérios específicos — afirma Mattos. — Sabe como fizeram o estudo do CDC? Ligavam para os pais e perguntavam: “alguém já disse que seu filho tem TDAH”? Esse não é um diagnóstico preciso.
Mattos citou ainda outro estudo do mesmo grupo publicado em 2007 mostrando que o número de pessoas com TDAH no mundo é basicamente o mesmo, independente da região.
— Se a prevalência na África é igual à dos Estados Unidos, não pode ser um fenômeno cultural — disse.
Ainda de acordo com Mattos, a maioria dos brasileiros com TDAH não recebe tratamento. Segundo estudo publicado por ele e outros pesquisadores na “Revista Brasileira de Psiquiatria”, menos de 20% daqueles com o distúrbio são medicados.
— Eu estudo pessoas que têm o problema, então não podemos deixar que o uso não médico atrapalhe o que eu faço. Sei que na verdade, no país, temos poucas pessoas sendo tratadas — afirma o especialista.
Não é o caso de Pâmela e Igor Rodrigues, de 16 anos. Irmãos, ambos foram diagnosticados com TDAH e usam medicamento. A mãe, Cláudia, conta que, no início, foi resistente.
— Eu era contra. Chorei uns dois dias sem parar quando recebi o diagnóstico do Igor, que foi o primeiro, aos 6 anos. Eu só tratava meus filhos com homeopatia, nunca dava antibióticos, e, de repente, prescreveram um remédio tarja preta — relembra Cláudia, que hoje defende o tratamento. — Eles têm nitidamente uma qualidade de vida melhor.
Mesmo assim, ela ainda precisa se explicar aos desconfiados e diz ter sido chamada de “louca” por parentes e professores. Mas da época em que Igor não era tratado, Cláudia não tem tanta saudade:
— Ele escalava tudo, não parava um minuto, não dormia mais do que três horas seguidas. E eu o vigiava a noite inteira, porque era perigoso deixá-lo sozinho.
O diagnóstico só veio seis meses depois da primeira consulta com um psiquiatra, após conversas, questionários, avaliações por parte de professores e observação da criança. Além de medicamento, o jovem também fez terapia cognitivo-comportamental, a mais recomendada para estes pacientes.
‘JÁ ME PEDIRAM PARA VENDER RITALINA’
No caso de Pâmela, os sintomas não eram tão aparentes:
— Eu era muito estabanada, derrubava tudo. Demorava o triplo do tempo de qualquer pessoa para fazer uma tarefa, porque não ficava sentada um minuto. Não me concentrava.
Hoje, ambos falam sem problemas do TDAH, mas ela admite que, às vezes, há um mal-entendido sobre o distúrbio e o uso do remédio.
— Já me pediram até para vender ritalina para fazer prova — lembra.
Presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção, a psicóloga Iane Kestelman tem dois filhos com o TDAH e conta que a entidade foi criada, há 15 anos, por causa da desinformação sobre o tema.
— São pessoas que sofrem muito, podem ter vidas prejudicadas se não forem assistidas — alerta.
Iane critica a desatenção por parte do governo. Ela lembra que há projetos de lei ainda em tramitação, mas ainda nada aprovado sobre o TDAH. E conta ter feito parte de um grupo de trabalho em 2008 no Ministério da Educação para elaborar um documento com diretrizes de inclusão pedagógica de pessoas com TDAH. O grupo surgiu em reação à exclusão do transtorno no texto da Política Nacional de Educação Especial.
— Depois de muita dificuldade, produzimos o documento. Mas ele sequer foi distribuído ou colocado em prática. Absolutamente nada está sendo feito — denuncia. — Foi no ministério, inclusive, a primeira vez que ouvi que teríamos que discutir se o TDAH realmente existia, tamanha a desinformação deles.
O Ministério da Educação respondeu, por nota, que o “documento preliminar” está no Conselho Nacional de Educação. O ministério ainda garante que tem trabalhado junto a universidades para difundir o conhecimento sobre o transtorno.
SAIBA MAIS SOBRE O TDAH
POLÊMICA EM PRESCRIÇÃO DE REMÉDIO
Para complicar ainda mais, a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo acaba de adotar novas regras para o acesso aos medicamentos. Numa portaria que passará a valer em outubro, o órgão pede que toda vez que o metilfenidato — componente da ritalina, praticamente única alternativa no tratamento do TDAH — for prescrito na rede pública, um grupo multidisciplinar de profissionais reavalie o caso do paciente. A justificativa do órgão é evitar o uso excessivo de remédio e garantir o acompanhamento do indivíduo. Mas a Associação Brasileira de Psiquiatria reagiu à medida, acusando-a de obstruir o acesso ao tratamento da população de baixa renda, além de limitar a autonomia do médico.
— Essa é mais uma barreira que se coloca no tratamento — acrescentou Cláudio Domênico, cardiologista e curador do evento realizado, na última quarta-feira, na Casa do Saber O GLOBO. — Muitas pessoas fazem mau uso do remédio, usam para virar a noite estudando ou dirigindo. Essa não é a indicação da bula, e isto acaba atrapalhando sua prescrição correta.
Embora seja um medicamento de tarja preta, a ritalina é comprada com facilidade no Brasil, hoje o segundo maior consumidor do remédio do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. De julho de 2012 a julho de 2013 foram comercializadas no país 2,75 trilhões de caixas com metilfenidato, o equivalente a R$ 54,2 bilhões, segundo a consultoria IMS Health.
Nos Estados Unidos, aliás, dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revelavam em 2011 que cerca de 11% das crianças americanas (6,4 milhões) tinham o transtorno, contra 7,8% em 2003. Além disso, 3,5 milhões delas faziam uso do medicamento, e na década de 1990 eram apenas 600 mil. Dados como este e a declaração em 2012 de Leon Eisenberg, considerado “o pai do TDAH”, de que tratava-se “de um excelente exemplo de doença fictícia” iniciaram o debate sobre o possível excesso de diagnóstico e de prescrição de remédios no país.
Esta preocupação foi rebatida pelo psiquiatra Paulo Mattos, autor do livro sobre TDAH “No Mundo da Lua”, durante o evento do GLOBO. Ele citou um estudo publicado este ano por um grupo de pesquisadores brasileiros na “International Journal of Epidemiology”, revelando que a prevalência do TDAH não variou de 1985 a 2012 no mundo.
— Qual é a diferença deste estudo para outros que mostram um aumento? Só foram incluídos os casos cujo diagnóstico tinha sido feito por especialistas, a partir de critérios específicos — afirma Mattos. — Sabe como fizeram o estudo do CDC? Ligavam para os pais e perguntavam: “alguém já disse que seu filho tem TDAH”? Esse não é um diagnóstico preciso.
Mattos citou ainda outro estudo do mesmo grupo publicado em 2007 mostrando que o número de pessoas com TDAH no mundo é basicamente o mesmo, independente da região.
— Se a prevalência na África é igual à dos Estados Unidos, não pode ser um fenômeno cultural — disse.
Ainda de acordo com Mattos, a maioria dos brasileiros com TDAH não recebe tratamento. Segundo estudo publicado por ele e outros pesquisadores na “Revista Brasileira de Psiquiatria”, menos de 20% daqueles com o distúrbio são medicados.
— Eu estudo pessoas que têm o problema, então não podemos deixar que o uso não médico atrapalhe o que eu faço. Sei que na verdade, no país, temos poucas pessoas sendo tratadas — afirma o especialista.
Não é o caso de Pâmela e Igor Rodrigues, de 16 anos. Irmãos, ambos foram diagnosticados com TDAH e usam medicamento. A mãe, Cláudia, conta que, no início, foi resistente.
— Eu era contra. Chorei uns dois dias sem parar quando recebi o diagnóstico do Igor, que foi o primeiro, aos 6 anos. Eu só tratava meus filhos com homeopatia, nunca dava antibióticos, e, de repente, prescreveram um remédio tarja preta — relembra Cláudia, que hoje defende o tratamento. — Eles têm nitidamente uma qualidade de vida melhor.
Mesmo assim, ela ainda precisa se explicar aos desconfiados e diz ter sido chamada de “louca” por parentes e professores. Mas da época em que Igor não era tratado, Cláudia não tem tanta saudade:
— Ele escalava tudo, não parava um minuto, não dormia mais do que três horas seguidas. E eu o vigiava a noite inteira, porque era perigoso deixá-lo sozinho.
O diagnóstico só veio seis meses depois da primeira consulta com um psiquiatra, após conversas, questionários, avaliações por parte de professores e observação da criança. Além de medicamento, o jovem também fez terapia cognitivo-comportamental, a mais recomendada para estes pacientes.
‘JÁ ME PEDIRAM PARA VENDER RITALINA’
No caso de Pâmela, os sintomas não eram tão aparentes:
— Eu era muito estabanada, derrubava tudo. Demorava o triplo do tempo de qualquer pessoa para fazer uma tarefa, porque não ficava sentada um minuto. Não me concentrava.
Hoje, ambos falam sem problemas do TDAH, mas ela admite que, às vezes, há um mal-entendido sobre o distúrbio e o uso do remédio.
— Já me pediram até para vender ritalina para fazer prova — lembra.
Presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção, a psicóloga Iane Kestelman tem dois filhos com o TDAH e conta que a entidade foi criada, há 15 anos, por causa da desinformação sobre o tema.
— São pessoas que sofrem muito, podem ter vidas prejudicadas se não forem assistidas — alerta.
Iane critica a desatenção por parte do governo. Ela lembra que há projetos de lei ainda em tramitação, mas ainda nada aprovado sobre o TDAH. E conta ter feito parte de um grupo de trabalho em 2008 no Ministério da Educação para elaborar um documento com diretrizes de inclusão pedagógica de pessoas com TDAH. O grupo surgiu em reação à exclusão do transtorno no texto da Política Nacional de Educação Especial.
— Depois de muita dificuldade, produzimos o documento. Mas ele sequer foi distribuído ou colocado em prática. Absolutamente nada está sendo feito — denuncia. — Foi no ministério, inclusive, a primeira vez que ouvi que teríamos que discutir se o TDAH realmente existia, tamanha a desinformação deles.
O Ministério da Educação respondeu, por nota, que o “documento preliminar” está no Conselho Nacional de Educação. O ministério ainda garante que tem trabalhado junto a universidades para difundir o conhecimento sobre o transtorno.
SAIBA MAIS SOBRE O TDAH
Comprovação
O TDAH está descrito no DSM 5, a chamada “bíblia da psiquiatria”, que define diretrizes de diagnóstico e tratamento de distúrbios mentais. Também é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde. São 18 sintomas, que vão de desatenção e hiperatividade à impulsividade.
Causas
O transtorno tem um forte componente genético e afeta entre 3% a 5% das crianças do mundo. Segundo estudos, há alterações na região frontal do cérebro, responsável por autocontrole, memória, atenção e organização.
Como se manifesta
Crianças e adolescentes com TDAH são muito agitadas e inquietas. Falam e gesticulam muito. Adultos costumam ter dificuldade de organizar e planejar suas atividades. Não conseguem focar e acabam deixando trabalhos pela metade.
Diagnóstico
O diagnóstico é clínico, ou seja, não existe um exame capaz de identificá-lo. Por isso, está sujeito a interpretações equivocadas. Questionários (para adultos e crianças), entrevista com os pacientes, pais, professores e até observação do indivíduo fazem parte do processo. Pode levar meses até o veredicto ser dado.
Tratamento
Geralmente há uma combinação de medicamento, orientação de pais e professores, e técnicas específicas para lidar com o transtorno. A terapia cognitivo-comportamental é indicada aos portadores de TDAH.
► VÍDEO: Especialistas debatem o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) na Casa do Saber O GLOBO
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade na berlinda
‘Os pais entram no consultório sem a menor ideia do que é TDAH’
Assinar:
Postagens (Atom)